19.9.14

O que é, afinal, uma "menina da linha"?

Depois de escrever o post "Lisboa, Lisboa" (que se pode ler aqui), fiquei com a sensação de que existem muitos significados (polémicos) para a expressão "menina da linha". Aparentemente, esta não é uma expressão inofensiva e de significado simples e factual. Cuidado, por isso, com a sua utilização, porque esta expressão pode acordar as maiores sensibilidades e levar-nos ao pior.

No referido post, caí no erro de me assumir como "menina da linha". Claro que, os comentadores mais astutos não perdoaram e caíram-me em cima. Tal qual justiceiros, acusaram-me de tentar "ludibriar" as pessoas com tamanha mentira. Mais ainda, com esta designação estava a ser "presunçosa" e a tentar "abrilhantar-me de fama antiga" (não vos consigo explicar melhor pois também eu não percebi). Tau, toma que já foste. Pensava eu que escapava impune com a do "ah e tal que eu sou menina da linha porque nasci, cresci e vivi em Oeiras durante toda a minha vida", mas não. Menina da linha ao que parece, é muito mais. É profundo. Ora atentem.

Pelos vistos, e informo-vos disto porque sou uma pessoa boazinha e solidária e não quero que vocês caiam no mesmo erro que eu, uma "menina da linha" não tem necessidade de dizer que o é. Pimba. Portanto, quando tiverem de dizer de onde são não caiam no erro de dizer "Sou de Lisboa", "Sou do Barreiro", Sou de Alijó", porque senão estarão a ser de tal forma presunçosos que nem 10.000 Avé Marias vos valerão. Vão por mim. A pessoa quando é de um sítio não tem necessidade de dizer que é, se disser é porque não é verdadeiramente desse sítio. Ah pois é! Desta não estavam à espera meus amigos.

Depois vem outro profeta da moralidade e brinda-nos com "é por haver pessoas assim que depois as verdadeiras meninas da linha acabam por ter uma conotação menos positiva". Oi? As verdadeiras? O que é isso? Têm pedigree? A cerejinha no topo do bolo é quando diz "se a visse na rua não diria que era uma menina da linha. Nada a ver". Oi oi? 

Foi então que aprendi mais uma coisa. Uma menina da linha vê-se pela aparência, topa-se à distância de um só olhar. E esta senhora, que nunca me viu, topou-me logo. Pobre de mim que tive o azar de me cruzar com uma profissional. Pois é, eu sei que estou a dar-vos muitas novidades e é muita informação para assimilar, mas ao que parece uma menina da linha deve obedecer a determinados critérios de aspecto. Não basta ser de lá, ter vivido lá desde sempre e ser uma pessoa de conduta normal. Nã nã nã! Uma menina da linha deve obedecer a uma lista mais ou menos como esta:
- Deve ter cabelo liso, castanho claro com as pontas mais claras;
- Deve ser magra e alta (pode não ser muito alta vá);
- Deve ser bonita, ao estilo das suas amigas "Teresinhas", "Madalenas" e "Rosarinhos";
- Deve vestir-se bem, ao estilo de todas as suas amigas e restantes "meninas da linha" dos arredores
- Deve tratar a família toda (incluíndo os irmãos mais novos, o peixe, o cão e o periquito) por "você";
- Deve ter uma voz com um tom 67,5% anasalado;
- Deve ter frequentado colégios e depois faculdade na Católica;
- Deve ter monteees de primos e irmãos e uma família enormeee.

Como não sou muito entendida nesta matéria das meninas da linha, admito que me possam ter faltado mais alguns requisitos importantíssimos para a identificação da espécie. Se se lembrarem de mais alguns, podem sempre deixá-los nos comentários abaixo. Pode ser que um dia consigamos escrever um livro só com este tema.

Meus bons amigos, não me alongando mais (apesar de ainda muito haver para discorrer sobre tão profundo tema), como vêm o conceito de menina da linha tem muito que se lhe diga, é matreiro. E eu a pensar que uma menina da linha era uma rapariga normal que sempre tinha vivido em Oeiras, junto à praia. Inocência e ignorância a minha. A querer fazer-me passar pelo que não sou. Desta não me esqueço. Shame on me!

6 comentários:

  1. Esqueceste-te de referir, que uma ''menina da linha'' ou de ''Lisboa'' ou de ''Setúbal'' ou de ''Faro'', uma ''menina'' simplesmente deve ser educada, independentemente do local onde cresceu. Acho ridícula a fama das meninas da linha. Normalmente as pessoas que se querem intitular de ''meninas da linha'', muitas vezes nem sequer são de cá. Vieram cá parar sabe-se lá porquê. Mas a maioria das pessoas que vivem em Cascais, ou Oeiras, ou Sintra, ou Estoril, etc nem sequer têm raízes cá. O meu bisavô já era natural de Oeiras. São gerações que existiam muito antes de haver essa ''moda'' que se tornou viver na linha. Tu se sempre viveste cá, se as tuas raízes já são daqui, não tens de perder tempo a justificar a pessoas que não entendem o que queres dizer. Todos sabemos a fama que algumas pessoas daqui têm, as ''tias''... muitas delas vieram cá parar mas nem são de cá. Quiseram colar-se à fama que é ''chique'' viver na linha. Eu sempre vivi aqui, mas confesso que neste momento, esta ''poluição'' me faz alguma confusão. Há até lugares no país bem mais bonitos e com melhor qualidade de vida. Como tu referiste no teu post Lisboa Lisboa, o trânsito é assustador, e a qualidade de vida está a diminuir para estes lados. É só a minha opinião.

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    1. Concordo com o que escreveu, há muita gente que não é da linha e gosta de se "colar" à suposta "fama" que tem viver cá, gabando-se disso. Depois quem é de cá e se sente naturalmente de cá, quando o diz ainda passa por "convencido" e "com a mania". Enfim, mas realmente muitas vezes nem vale a pena tentarmos explicar o nosso ponto de vista a algumas pessoas, que só querem mesmo falar mal. É um mal menor. Obrigada pelo seu comentário muito positivo! E sim, qualquer menina deve ser educada e esse é um critério muito importante a não esquecer :)
      Beijinhos

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  2. Se dissesses que eras menina bairro das Marianas ninguem te caia em cima! Agora como diseste a verdade. FIM DO MUNDO!! eheh Beijinhos de outra menina da linha :)

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    1. É que é mesmo isso, as pessoas são mesmo assim! Têm um conceito de "menina da linha" tão snob, irreal e cheio de estigmas fantasiosos que parece que quem se assumir como tal está a querer passar-se pelo que não é. Mentes distorcidas. Mas nós estamos cá para o que vier ;)
      Obrigada :)! Beijinhos

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  3. Às vezes dou comigo em contextos completamente estranhos, nos quais, por ser eu o estranho ou intruso, não conheço nem me apercebo de como as relações entre as pessoas estão estruturadas.
    Nesses circuitos, quando tudo é novo, todas as pessoas me aparecem como iguais e a ideia que retiro de cada uma é a primeira impressão, a primeira imagem ou o primeiro diálogo. Muitas vezes é com esse enquadramento que, perante a ignorância dos estatutos, hierarquias ou poderes, podemos ser mais genuínos e justos no relacionamento com os outros, ainda que de uma forma superficial e fugaz.
    As catalogações têm, para muita gente, um efeito perverso sobre as avaliações que se fazem sobre os outros. Vão-se buscar estereótipos para marcar a personalidade de cada um quando o seu desconhecimento é quase absoluto.
    Este parece-me ser um desses casos. Estava tudo perfeito até que a Manjerica, na sua boa-fé e "ingenuidade", utilizou o termo "menina da linha". Não tivesse havido este "deslize", tudo tinha continuado bem, o texto não teria gerado polémica e, muito provavelmente, teria merecido elogios dos que o criticaram.
    Mas não creio que haja muito a fazer quanto a essas opiniões, o mundo está cheio delas e temos de aprender a viver com isso. Costumo pensar que quando alguém não é de boas intenções e não tem nada de mal que possa apontar, inventa qualquer coisa de que possa falar de forma menos construtiva.
    Poderia pensar-se, se não os podes vencer junta-te a eles. Mas prefiro outro chavão que se aplica melhor a estas situações: se não os podes vencer, Ignora-os.

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    1. Fico sempre feliz quando descubro e encontro pessoas inteligentes. São as mentes abertas deste mundo que o fazem evoluir e avançar. As mentes em que o preconceito e os "conceitos feitos" não têm lugar. Obrigada :)

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