Bom dia Manjericas(os)! Como estão aí desse lado depois de mais um Natal? A rebolar que nem umas lontras? Enjoadas(os) e sem conseguirem pensar/cheirar/ver mais rabanadas, lampreias de ovos, sonhos e arroz doce? Acusem-se as(os) guerreiras(os) que sobreviveram a mais um Natal.
Vou então contar-vos um bocadinho do meu Natal, que este ano acabou por ser em casa dos meus pais com os avós do lado do pai, tios e primos. Ora bem, o meu Natal foi bom, com muita comidinha e também muito barulho e confusão como se quer nesta época festiva. Por muito barulho e confusão não me refiro apenas à música natalícia que tocou durante toda a noite de consoada mas também aos gritinhos melodiosos dos priminhos mais novos que não podiam faltar, claro. Natal que é Natal tem crianças ruidosas lá pelo meio. Tem de ser.
Um dos factos curiosos que se verifica sempre na minha família nestas épocas de festa é a necessidade de fartura à mesa. É impressionante a quantidade de comida que vai para a mesa e é ainda mais impressionante a quantidade de comida que volta para a cozinha. Parece que estamos sempre à espera de mais 30 pessoas que nunca aparecem. São entradas e entradas, pratos e pratos, é bacalhau e polvo para um batalhão de guerra que não come há 60 dias, vinhos quentes, frios e doces para acompanhar as 1001 sobremesas que nunca ficam nem sequer a metade e se tornam um género de montra para apreciar. Em apenas dois dias sinto que comi mais que em duas semanas.
Depois é toda a dinâmica familiar que se vive/observa (dependendo do nível da vossa participação) nestes dias. Lá em casa temos o hábito de passar o Natal com a família toda (um dia com a família do lado do pai e o outro dia com a família da mãe) e o nosso Natal foi durante muitos anos passado no Norte. Nesses Natais estamos também com aquela família mais afastada com quem não convivemos todos os dias e depois voltamos a lembrar-nos porquê. Este ano, graças a Deus e à nossa insistência, o Natal foi passado em terras de alface. A dinâmica foi, portanto, bem mais simples e a confusão bastante menor.
Este Natal não tive uma tia afastada a dizer que a minha irmã já está mais alta que eu com grande admiração (ela já está mais alta que eu há uns 7 ou 8 anos), não tive de dar beijinhos a velhinhas com cara de cacto que já picam a 10 centímetros de distância, não tive de dizer 30 mil vezes que já terminei o curso há 4 anos e já trabalho, não tive de sossegar as mentes mais preocupadas porque não estou suficientemente "roliça", não tive de descongelar a água do autoclismo e não tive de conviver com 5 graus negativos.
Posto isto, este foi um Natal bastante tranquilo, com muita comidinha boa, bons presentes, muita conversa, convívio e passeios familiares, o mais importante. No entanto, saliento que é necessário um certo jogo de cintura (o Hula Hoop é pra meninos!) para aguentar com sanidade toda a intensidade que é passar dois dias em família. Por muito boas que sejam as famílias e por muito bem que se dêem, volto a repetir, é intenso. É intenso ignorar os comentários estapafúrdios de X ou as opiniões completamente contrárias às nossas de Y, é intenso ouvir as piadas sem piada de Z, as tentativas de conversa de W ou aquelas ideias que nem acreditamos que estamos a ouvir e que se não estivéssemos em ambiente familiar já nos tinha saltado a tampa ao ouvir aquilo. É necessário ir fazendo um exercício de respiração intenso e é nestes momentos que penso que devia praticar Ioga.
Agora a sério, é só preciso fingir que não se ouve muita coisa e está tudo bem. Agora ainda mais a sério, com isto tudo podem ficar a pensar que não gosto do meu Natal, mas estão enganados. Adoro o meu Natal. É rico destas coisas e cheio de histórias para contar. É aconchegante e caloroso. É bastante intenso. Espero que o vosso Natal também tenha sido bem alegre e quentinho e que tenham sobrevivido ilesos a todas estas balas natalícias.
Partilhem comigo quais são os momentos mais díficeis que têm de enfrentar todos os Natais e também quais as partes que vos aquecem o coração :)